quinta-feira, janeiro 25, 2007

Cartas...



Cartas...
Quem é que ainda escreve cartas?
Daquelas de papel e caneta em punho!!! Nada destas modernices de correios electrónicos, foruns, blogs...

Daquelas que podemos tocar, cheirar, guardar no nosso baú de recordações. E relê-las mais tarde, quase que por acidente, quando naquele dia em que finalmente nos decidimos a arrumar o caos daquela gaveta esquecida no armário do quarto. E depois damos por nós, nostálgicos, com a lágrima no canto do olho, a recordar aquelas palavras que um dia alguém nos escreveu!!!!

Hoje, decidi desligar-me desta máquina que cada vez mais se intromete na minha vida, seja no trabalho, seja em casa, e peguei no papel e na caneta...e, de uma vez só, sem qualquer hesitação, ou folha arrancada do bloco e deitada ao lixo, escrevi à minha Princesa...

...disse-lhe tudo o que me ia na alma...

...só espero que ela não coloque aquela folha de papel no seu baú e a deixe esquecida por uma eternidade...e anseio por um dia, ouvi-la gritar do quarto, do nosso quarto: " Vem ver, vem ver!!! Olha o que eu encontrei aqui!!! - um suspiro - Ainda bem que foi só a carta que coloquei no meu baú de recordações...ainda bem que conto contigo aqui ao meu lado hoje, a recordar estes momentos!!!"...

...Anseio por saber o que vou pensar e sentir quando, daqui a muitos anos, resolver arrumar aquele caos daquela gaveta do meu roupeiro...anseio saber o que apenas consegui manter no meu báu de recordações!!!

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Dança comigo...


Dança comigo, como se fosse a primeira vez...

Ainda me lembro da tua cara envergonhada,
e da tua voz que dizia:" Não sei se estou à altura!!!"

Sinto o toque das tuas mãos, vejo o brilho dos teus olhos
e a sinceridade do teu sorriso...
Nunca mais vou esquecer aquele momento
em que flutuámos naquele chão, que parecia só nosso!!!
Agora sou eu que digo:
Não sei se estou à altura!!! Mas Dança comigo...
Dança comigo como se fosse a primeira vez...
Dança comigo nem que seja pela última vez...

Elogio ao Amor











Quero fazer o elogio do amor puro.

Parece-me que já ninguém seapaixona de verdade.
Já ninguém quer viver um amor impossível.
Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.

Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido.
Porque é mais barato, por causa da casa.

Por causa da cama.
Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais,
discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.
Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.

A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível.
O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido,
do amor doente, do único amor verdadeiro que há,
estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia,
são uma raça de telefoneiros e capangas decantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem",
tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas,
matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona?
Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza,
o desequilíbrio, o medo, ocusto, o amor,
a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas,
a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores.

O amor fechou a loja.
Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor.
A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino.
O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.

O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém.
Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos.

E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira.

E valê-la também.


Miguel Esteves Cardoso in Expresso


quinta-feira, janeiro 11, 2007

Bato a porta, devagar...

...eis, mais uma vez, que chega um momento da minha vida em que tenho que decidir-me a enterrar bem fundo todas as coisas que me retiram a alegria de viver.

Sinto que a minha vida é "uma mão cheia de nada", pois já nem as pessoas de quem mais gosto, aquelas que tiveram a coragem de um dia me trazer ao mundo, consigo ajudar...

Preciso de partir deste cais e encontrar um porto de abrigo...aqui, a única expressão incontrolável é a lágrima...talvez um dia volte a reencontrar o riso...




"Bato a porta devagar,
Olho só mais uma vez
Como é tão bonita esta avenida...
É o cais. Flor do cais:
Águas mansas é a nudez
Frágil como as asas de uma vida

É o riso, é a lágrima
A expressão incontrolada
Não podia ser de outra maneira
É a sorte, é a sina
Uma mão cheia de nada
E o mundo à cabeceira

Mas nunca
Me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti
Eu nunca me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti

Tudo muda, tudo parte
Tudo tem o seu avesso.
Frágil a memória da paixão...
É a lua. Fim da tarde
É a brisa onde adormeço
Quente como a tua mão"